Bailique
Existe uma comunidade conhecida como Ponta da Esperança, que fica no arquipélago do Bailique. Ela é uma das muitas comunidades da região, a 180 quilômetros do centro de Macapá, no Estado do Amapá. Um conjunto de ilhas, em plena Amazônia, local onde residem mais de 10 mil pessoas.
O Bailique está sofrendo fenômenos ambientais que podem colocar em risco a própria existência do arquipélago e já é responsável pelo deslocamento de muitas pessoas que estão deixando a região. Isso em razão da erosão intensa das margens das ilhas, as terras caídas. Além disso, a região sofre com a salinização da águas do rio, invadidas pelo oceano, interferindo no pescado, no camarão, na produção do açaí e na saúde dos moradores.
Acontece que as pessoas que moram nas ilhas do Bailique vivem de uma forma completamente diferente do resto do mundo. É uma convivência verdadeiramente coletiva, autossuficiente e solidária. Mesmo enfrentando adversidades, como a falta de luz e água potável, mantêm um orgulho profundo da terra, um senso de pertencimento.
Na Vila Progresso, por exemplo, habitam-se sonhos. Como o que Augusto realizou para mim. Uma cosmopolítica onde rios, árvores e humanos dialogam e a contemplação ainda sobrevive. O futebol, ao final da tarde, é a prova viva de uma utopia realizada.
Eladir e Kim estão preocupadas com estes fenômenos, até mesmo porque estão lhe atingindo diretamente. Há famílias que já tiveram que reconstruir suas casas por diversas vezes – nem isso retira a esperança delas de viver eternamente no Bailique. Vi isso nos rostos das pessoas de lá e nas gargalhadas do Iran.
Andei por muitos lugares. Desci e subi rios, caminhei em pontes de madeira sobre as águas. Brinquei com os cachorros. Só não precisei chegar na Ponta da Esperança. Porque no Bailique, a esperança não se concentra num ponto. Ela está por todo o lugar.