
Nossos grandes mestres da música estão partindo, um a um. Uma geração inteira de artistas geniais já se foi. Da bossa nova, restam apenas alguns poucos nomes. Da tropicália, embora muitos ainda estejam entre nós, boa parte já se retirou dos palcos e alguns também já se foram. É inevitável pensar nisso — talvez seja apenas o tempo me lembrando de que também estou envelhecendo.
Ainda assim, há faróis que permanecem acesos. Dentre eles, o genial Caetano Veloso. E a genialidade de Caetano não está unicamente em suas melodias. Antes disso, está na sua capacidade de ser múltiplo: um artista que atravessou gerações com naturalidade, sempre dialogando com o novo e sem perder sua essência.
Pensei nisso ontem, ao lembrar do show que fui, dele com Maria Bethânia, aqui em Porto Alegre, alguns meses atrás. Especificamente quando os dois apresentaram ao público a canção Fé. A batida da canção se aproxima de um rap, e Caetano, ao interpretá-la, revela mais uma vez sua impressionante versatilidade. Pensando disso cheguei a conclusão de que em todos os momentos Caetano foi inovador. Foi assim com podres poderes, haiti, luz de tieta, jorge da capadócia, sampa. Sempre um inovador e atento ao momento.
Caetano, quanto mais envelhece, mais mostra sua juventude. É curioso e inquieto. Aberto ao novo. Um privilégio sem tamanho podermos ter Caetano em nosso cotidiano cultural.