É o que basta
João Gilberto não deixou muitos discos gravados. No total, ele gravou cerca de 14 álbuns de estúdio, além de discos ao vivo e coletâneas. Pode ser considerado pouco se pensarmos que foram cinquenta anos de carreira: é público e notório que que ele viveu boa parte de sua vida na reclusão. Mesmo assim sua obra continua sendo uma referência obrigatória para quem deseja entender a música brasileira.
Seu trabalho foi sempre caracterizado pela busca pela perfeição no som e pela sensibilidade musical. A história conta que após viver nos estados unidos, onde gravou o marcante Getz/Gilberto, e participou de inúmeras atividades culturais por lá, João Gilberto permaneceu no México, quando conviveu com Oscar Castro-Neves, que produziu o disco em que João não canta, ele sussurra. Em que João não toca, ele batuca.
Alguns discos são perfeitos, outros são necessários: “João Gilberto en México” é um pouco das duas coisas. Por isso que, para mim, este álbum é o mais expressivo da carreira dele e representa sobremaneira as transformações ocorridas no brasil a partir dos anos 1950, marcado por mudanças sociais, urbanas e políticas que influenciaram diretamente a produção artística do país.
A foto da capa do disco já é representativa disso tudo: traduz um João Gilberto de Juazeiro, do Lúcio Alves e do Haroldo Barbosa, do melodramático e tradicional. Rumo ao moderno e sofisticado, do Billy Blanco e do Tom Jobim, do Frank Sinatra a da influência do jazz. Uma prestação de contas disso tudo. E por isso mesmo, o mais João Gilberto.
Eu para você fui mais um, você foi tudo para mim. Eu fiz de você o meu sol, minha ilusão, meu tudo, enfim. As coisas belas da vida, de nada servem, por quê. Porque não tenho querida, você.
É o que basta.