
João Gilberto gravou cerca de 11 álbuns de estúdio, além de discos ao vivo e coletâneas. Foram sessenta anos de carreira, porém boa parte dela vivida de forma reclusa em seu apartamento no Rio. A despeito disso, sua obra continua sendo uma referência obrigatória para quem deseja entender a música brasileira.
A carreira de João Gilberto sempre foi caracterizada pela busca da perfeição no som e pela sensibilidade musical. A história conta que, após viver nos Estados Unidos, de 1962 a 1969, quando estabeleceu residência em Nova York – e participou do mítico encontro da bossa nova no Carnegie Hall em 1962 e aí por diante –, João mudou-se para o México, em 1969.
A escala no México era prevista para durar dez dias, mas se estendeu por mais de um ano e gerou o quarto álbum solo do artista, com arranjos de Oscar Castro-Neves, lançado nove anos após “João Gilberto”, de 1961. Onze músicas cuja gravação totalizou 27 minutos de pura perfeição, ao menos para meu ouvido.
João não canta, ele sussurra. Ele não toca, batuca. Aliás, aprendi com ele que o tamborim é o instrumento que mais representa a bossa nova. (hoje não tenho dúvida disso).
Alguns discos são perfeitos, outros são necessários: “João Gilberto en México”, produzido por Mariano Rivera Conde é um pouco das duas coisas. Para mim este álbum é o mais expressivo de sua carreira e representa sobremaneira as transformações ocorridas no Brasil a partir dos anos cinquenta, marcado por mudanças sociais, urbanas e políticas que influenciaram diretamente a produção artística do país.
A foto da capa do disco já diz muita coisa: mostra o João Gilberto do rádio, de Juazeiro, do Lúcio Alves, do Haroldo Barbosa. O melodramático e tradicional em busca do moderno e sofisticado, do Billy Blanco, do Tom Jobim, da influência do jazz. O disco é uma prestação de contas de tudo isso.
Eu para você fui mais um, você foi tudo para mim. Eu fiz de você o meu sol, minha ilusão, meu tudo, enfim. As coisas belas da vida, de nada servem, por quê. Porque não tenho querida, você.
É o que basta, sobre João no México.
