O Evangelho de Francisco
1. Em tempos em que todo mundo tem uma opinião, um argumento afiado e um dedo apontado, o Papa Francisco reforçou em mim valores que parecem terem vindo de outro tempo: será que o mundo mudará por grandes reformas ou através de milhares de pequenos atos que fazem a diferença real na vida de alguém?
2. Francisco nunca disse que o mundo é perfeito. Nem tentou maquiar a realidade com palavras bonitas. Ele reconhece a dureza do capitalismo, as feridas da desigualdade, as injustiças que parecem estruturais. Mas ao invés de fazer da crítica um altar e da denúncia uma bandeira, ele aponta para algo mais desafiador: a empatia. Não a empatia do discurso, mas sim sobre um capitalismo um pouco mais humanista, que se traduza em prato de comida e em escuta verdadeira.
3. Vejamos uma situação. “Não dê dinheiro, ela vai comprar droga.” Este é um padrão de conselho, muito repetido por nós nos dias atuais, com a segurança de quem acha que conhece o mapa da alma alheia. Uma espécie de mantra moderno usado para justificar a recusa. Como se, ao negar uma moeda, estivéssemos salvando alguém de si mesmo. Como se a nossa omissão fosse razoavelmente ética. E tal qual este exemplo, teríamos muitos outros, como os resistentes desrespeitos com as pessoas que não se identificam com a suposta opção sexual e o gênero dito “convencional”.
4. Percebo que mudei minha visão de mundo quando me dei conta de que não se desmonta um sistema de todo. Mas que se pode subverter sua lógica e que esta subversão pode ser individual. Aliás, e se for verdade? Se de fato ela usar o dinheiro para comprar cachaça? Isso muda alguma coisa? Ou será que alguém pede esmola e tem o corpo sujo por opção?
Tudo isso representa, para mim, o Evangelho do Papa Francisco.
Alexandre S. Triches
24/04/2025